terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Uma pequena carta.

"Querido Tempo,
(...)
Não se vá, ou pelo menos, não passe tão rapidamente. Ande como uma tartaruga nos momentos em que minha alma estiver coberta por felicidade. E pare, congele como um iceberg, quando eu estiver nos melhores braços, olhando para os olhos mais brilhantes. Não leve embora as lembranças mais lindas. Não tire de mim os sorrisos que nós demos, as palavras soltas ao vento. Não leve contigo o meu amor. Tempo, não apague o que tenho de melhor. Mas nas horas em que faltar fé, por favor, meu querido Tempo, corra. Corra como quem foge de um terremoto. Não deixe que ele abale nossas estruturas. Corra até não aguentar mais... Só que por favor, não o leve para longe de mim.
                                                  Com amor, I."

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Anne

Era como se todos os outros caminhos tivessem se fechado, e o único — e mais fácil — era desistir. Porém desistir do que te sustenta, não é tão fácil como parece. Precisava seguir em frente, continuar na mesma monotonia de sempre não dava — era infeliz. Anne era repleta de sonhos, e seu único pesadelo era este. Ser infeliz.
— O que te trava o riso? O que te impede de ser a pessoa mais feliz do planeta?
Ela precisava matar todas as tuas dúvidas, acabar de vez com tudo. Porém era covarde demais. Talvez até para admitir certas coisas a si mesma. E eram essas certas coisas de que mais tinha medo. De ser demais. Demais para si. Para os outros. Ou não ser.
Acostumou-se com o vazio, e a solidão virou sua melhor companhia. Anne se encontrava assim: sentia-se ela, sentia-se como se tivesse nascido para ser assim, vazia. Não era um vulcão, pra falar a verdade, Anne não era nem uma gota de chuva. Era talvez uma brisa leve. Mas ja era tarde demais para ser alguma coisa. Anne havia se perdido na sua própria escuridão. Mas ela não fazia idéia do que era aquilo... Já tinha se acostumado.
(...) Mas lá estava Anne novamente, em busca de sua felicidade perdida. Ela sabia que apesar de toda aquela dor, toda aquela sequencia de problemas não arrancariam tua esperança, que inundava tua alma da forma mais linda possível. Escreveu uma carta, e sua última palavra foi: Venha. A carta era para a felicidade.
Isabela Morgado

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O nosso quase amor.

[...] Já não sabia mais nomear esse sentimento, na verdade, nem sabia se merecia um nome. Ficaste tanto tempo fora, que tua falta virou rotina. Em outras palavras, - mais cruéis, confesso - me acostumei com tua ausência, e já não fazia questão de ti. Não preciso citar teu nome, teu sobrenome, muito menos a rua em que nos encontramos pela primeira vez. Sabes que escrevo para ti. Sabes que em cada letra aqui possui um pouco de nós. Possui você. Tentei pensar em algum motivo para não te escrever, assim como pensava em algum motivo para não te amar, mas, não havia ninguém para me impedir. Estava carregada de lembranças vazias. Confesso que senti falta do medo que você me transmitia, da enorme insegurança, e a ilusão que me permitiu viver, mas em nada isso me acrescentava. Eu gostava, porque fantasiava aquilo, porque eu tinha esperanças, porque eu as alimentava. Acrescentei você em todos os meus sonhos, e no momento que partiu, eles foram com você. Não via saída, até que tudo fez sentido. Não amava você, eu amava o mistério da nossa história, eu amava o nosso futuro que nunca aconteceria, eu amava as tuas promessas nunca realizadas, eu amava aquela fantasia. Amor aquilo nunca poderia ter sido. Amor havia se tornado uma palavra muito grandiosa diante da nossa história. Ou da nossa quase história. Vivemos diante do quase, porque nunca fomos capazes de sermos. Nunca tivemos a força de chegar, e agir. Nosso quase amor nunca existiu, porque amor, amor não é 'quase'. O amor é tudo, e 'tudo' foi tudo o que não conseguimos ser.
Isabela Morgado.