domingo, 27 de novembro de 2011

O primeiro não-clichê.


Não eram como outros garotos. Muito menos um casal qualquer. Possuíam algo diferente. Apenas os dois podiam compreender-se. Quem os encontravam nos passeios á tarde, diziam que jamais abriam a boca e esperavam com evidente ansiedade pela aparição de outro novo amor em suas vidas. Apenas os mais perfeccionistas podiam reparar um leve brilho naqueles olhares castanhos escuros.
Aconteceu que, em um desses passeios, o acaso os conduziu a uma pequena rua, próxima á casa daquela guria. Era uma rua estreita, sossegada, com vários sobradinhos coloridos, com flores brancas e amarelas no parapeito das varandas. Era uma típica rua feliz. Nada nela condizia com o coração dos dois — existiam monotonamente, talvez á espera de um novo agasalho, um novo amigo, uma nova casa, ou até, um novo amor. Vez ou outra, sorriam com os lábios — com a alma, era raro. Não possuíam o mínimo de empatia um pelo outro.
Mas de certa forma, sentiam-se maravilhosamente bem, quando estavam juntos.
Anoitecia, e as luzes daquela viela se acendiam — algumas, por estarem velhas, piscavam.
Ele não gostava quando ela falava, achava sua voz rouca demais. Porém, achava lindo o vento acariciando os cabelos cor de mel da guria — como acontecia naquele fim de tarde.
Trocavam poucas palavras, porém eram sempre as palavras certas.
Nunca olhavam-se nos olhos — como se seus olhares pudessem revelar coisas óbvias.
Ele a observava, quieta, encolhida, e perdida no meio de um casaco branco.
Ela adorava quando ficavam em silêncio — podia ouvir as batidas do coração acelerado dele.
Por ironia, ela sentiu sendo observada, e olhou. Seus olhares se cruzaram; nunca haviam visto algo tão extraordinário quanto aqueles olhares. Todas as frases clichês encontradas em livros românticos, encaixavam-se ali.
Sorriram — e levaram uma luz fascinante aquela rua, na qual morador nenhum nunca havia visto.
Ele não aproximou-se, nem fez nada esperado — ele sabia que ela odiava grudes, e principalmente o cheiro de cigarro que ele possuía.
Mas, reconheceram-se, naquela noite. E até letras das piores músicas fizeram sentido, naquele momento — ou apenas a vida, começou a fazer sentido.
Não por ele, não por ela. Pelo amor.
Deliciavam o olhar de quem passava por aquela rua.
Era fascinante a tamanha felicidade que descobriram carregavam em seus corações. Apenas por estarem ali. Juntos…
Isabela Morgado.

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